Dor Oncológica: os cuidados de enfermagem
Enfermeiras:Andreya C. P. Tulli, Cláudia S. C. Pinheiro, Sinara Z. Teixeira AFECC – Hospital Santa Rita de Cássia, Vitória - ES
INTRODUÇÃO
A dor é considerada um dos sintomas mais freqüentes nas neoplasias. É também o mais temido pelos pacientes oncológicos. Estima-se que 10% a 15% dos doentes de câncer apresentam dor de intensidade significativa nos casos de doença inicial. Com o aparecimento de metástases, a incidência da dor aumenta para 25% a 30% e nas fases muito avançadas da enfermidade, 60% a 90% dos pacientes referem dor de intensidade bastante expressiva. Aproximadamente nove milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de dor oncológica. Metade dos doentes sente dor em todos os estágios do câncer e 70% em doença avançada.
Nos próximos trinta anos, o aumento do número de casos de câncer será de 20% nos países desenvolvidos e de 100% nos países em desenvolvimento – o quetorna premente o desenvolvimento de novos tratamentos para controle da dor oncológica e o treinamento dos enfermeiros para o cuidado do paciente de câncer com dor. A dor oncológica pode ser devida ao tumor primário ou a suas metástases. O sofrimento dos doentes é o resultado da vivência da dor associado a incapacidade física, isolamento familiar e da sociedade, preocupações financeiras, o medo da mutilação e da morte.
O enfermeiro é o profissional da área da saúde que permanece mais tempo junto ao paciente com dor, portanto, tem a oportunidade de contribuir muito para aumentar o conforto do paciente e aliviar sua dor, através de cuidados especiais oferecidos para o conforto do paciente, de modo que ele possa desenvolver sua capacidade funcional e sobreviver sem dor.
As terapêuticas para tratamento do câncer quase sempre são agressivas, o que leva a uma ameaça séria à integridade do organismo e sua função. Um aspecto importante no cuidado do paciente com câncer é a necessidade de suporte psicológico para os profissionais que atuam diretamente em serviços de oncologia – principalmente para a equipe de enfermagem – pois ela passa, no dia a dia , por momentos de conflito interpessoal, por estar exposta a situações de gravidade, morte, expectativa de cura, tristeza de familiares e outros.
DEFINIÇÃO DE DOR
De acordo com a Associação Internacional para Estudo da Dor, dor pode ser definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano tecidual. Por ser subjetiva, não existe uma maneira precisa de mensurá-la. Deve-se efetuar a colheita da história da doença e do quadro álgico. A atenção deve estar voltada para fatores psicológicos e sociais que podem confundir a queixa.
O Enfermeiro deve saber reconhecer/identificar "indícios da dor". Esta é uma tarefa que pode gerar dificuldades, visto que pacientes e profissionais podem ter concepções diferentes da dor. Esta pode apresentar-se de diversas maneiras, tais como através do choro, gemido, alterações dos sinais vitais, agitação, tremor ou comportamento verbal. Entretanto, o não aparecimento dos sinais citados não significa ausência de dor. Alguns pacientes podem adaptar-se à dor, através do desenvolvimento de um elevado autocontrole, suprimindo os sinais de sofrimento, ou apenas permanecendo prostrados ou mais quietos que o habitual, devido ao esgotamento físico e mental causados pela doença.
A dor é classificada em aguda e crônica. A dor aguda é de curta duração, normalmente em um prazo inferior a seis meses. A intensidade da dor varia de fraca a severa, de causa pouco conhecida. O quadro de dor crônica é aquele de longa duração, de causa conhecida ou não, que não melhora após a terapêutica e com intensidade variada.
A dor ainda pode ser dividida em: somática, visceral e neurogênica. A dor visceral ocorre quando há comprometimento de órgãos internos. Não há localização precisa, é contínua e surda. A dor somática, originada de ossos e partes moles, é contínua, localizada na área acometida e que piora com pressão ou movimento. A dor neurogênica localiza-se na região inervada pelo nervo danificado e pode estar associada a um "déficit" motor ou sensitivo, alterações do sistema nervoso autônomo, parestesias e episódios paroxistícos de sensações de "choque" ou queimação.
Alguns fatores podem levar à dor, tais como:
- Infiltração do tumor em áreas inervadas, ossos, tecidos de parte moles ou retroperitôneo;- Compressão de tecidos e nervos, devido ao crescimento do tumor;- Necrose tecidual localizada como resultado da invasão tumoral;- Procedimentos invasivos de diagnóstico e tratamento;- Complicações ocasionadas do próprio tratamento como: infecções, estomatites, inflamação tecidual ocasionada pela radioterapia.- Incapacidade de movimento;- Alinhamento corporal inadequado.
A dor prolongada causa no paciente depressão, raiva, falha no desempenho de atividades rotineiras (ex.: atividade sexual, tomada de decisões). O profissional de enfermagem deve avaliar a dor através de levantamento de dados, para planejar a assistência de enfermagem, ajudar a selecionar as medidas de alívio mais adequadas e verificar a eficácia da terapêutica adotada.
É imperativo que o profissional da saúde não subestime as queixas do paciente e realize avaliação completa de todos os sintomas relatados, aprendendo a perceber quando a dor é elevada devido a distúrbios psicológicos, para providenciar o imediato tratamento.
Um roteiro a ser seguido baseia-se na intensidade, localização, tipo, início e duração, fatores que proporcionam alívio e piora, efeito ocasionado pelas terapias empregadas, anamnese exame físico.
Não há método totalmente adequado de avaliação da dor, visto que não sabemos como mensurar aspectos sensitivos e afetivos. Todavia, existem algumas escalas que são empregadas. Em uma delas, o indivíduo expressará a sua dor através de palavras ou símbolos. Exemplo: Sem dor, dor leve, dor moderada, dor intensa, dor excruciante. Um outro tipo de mensuração compreende uma escala numérica de 0 a 10, onde pede-se ao paciente que dê nota à sua dor. Em uma terceira escala, podemos levantar um questionário onde a dor é avaliada em: ausente, média, moderada, severa e intolerável.
CUIDADOS DE ENFERMAGEM
Ao cuidar de um paciente com dor é importante considerar dois tópicos que são relevantes para o exame, a intervenção e a avaliação. Primeiro: é o enfermeiro deve acreditar quando o paciente diz estar com dor. Não existem escalas exatas que mensure a dor, portanto, a avaliação é obtida através de dados sobre causas físicas, mentais ou emocionais da dor. Segundo: é a observação da variedade de comportamentos não verbais que indicam a presença da dor.Aspectos avaliados: a avaliação da enfermagem é feita através dos seguintes aspectos :a) Determinação da dor: Aguda ou Crônica;b) Atitudes do paciente;c) Identificação de fatores que influenciam a dor e a resposta do paciente a ela.
Esta avaliação proporciona ao enfermeiro a realização de um planejamento de enfermagem, voltado para a melhoria dos sintomas aqui estudado.
Avaliações e Intervenções de Enfermagem:
Avaliar o tipo de dor do paciente: localização, duração, qualidade e influência nas atividades do cotidiano;
Usar uma escala de intensidade da dor que vai de 0 (ausência de dor) a 10 (pior dor possível). Obter uma investigação cuidadosa dos medicamentos já utilizados e atuais, a resposta e os efeitos colaterais destes;
Explorar intervenções para a dor que tenham sido usadas e sua eficácia. Correlacionar a dor e sua intensidade ao analgésico prescrito;
Os analgésicos poderão ir diminuindo a partir do momento que se associa ao tratamento, a quimioterapia e radioterapia;
Intervir a fim de minimizar os riscos de ocorrência, gravidade e complicações da dor;
Usar medidas alternativas para alívio, como: construção de imagem, relaxamento e biofeedback;
Incentivar medidas que promovam o relaxamento: massagem superficial, compressiva ou vibratória;
Transmitir a sensação de que a dor do paciente é compreendida e que pode ser controlada;
Promover o conforto físico através de camas, protetores de colchões, aparelhos de apoio e demais equipamentos necessários;
Procurar ajudar paciente, familiares e equipe médica em relação à necessidade de apoio para controlar a doença;
Buscar ajuda de religiosos (quando o paciente professar uma determinada religião e for receptivo);
Controlar estímulos ambientais que possam prejudicar o paciente, tais como: barulho, calor, luz etc., evitando bater portas ao entrar ou sair do quarto ou enfermaria e controlando o volume da própria voz ao falar com o paciente;
Incentivar ajuda de um especialista, nos casos de dor intratável;
Ajudar o paciente a imaginar que está se livrando da dor, sempre que expira lentamente;
Esclarecer o paciente sobre as medidas tomadas a fim de reduzir e eliminar sua dor;
Estimular medidas relacionadas à terapia ocupacional, leituras, televisão, música e, se possível, trabalho com argila, aquarela, crochê, tricô;
Comprometer-se com o paciente a não abandoná-lo, caso a dor persista, continuando a buscar alternativas para controlá-la;
Usar técnicas que ajudem no relaxamento, evitando fadiga, promovendo a descontração do músculo esquelético, que reduz a intensidade da dor ou aumenta a tolerância à ela;
Sempre que possível, usar a via oral para administração dos medicamentos, evitando a via IM;
Administrar analgésicos previamente, antes do ressurgimento dos sintomas da dor, a fim de evitar dor severa;
Solicitar ajuda de outros profissionais da saúde, caso apareça dor em outras regiões do corpo, ou mesmo o aumento desta;
Orientar quanto aos métodos de administração dos medicamentos, determinados pelo pico de ação e duração do medicamento no organismo, conforme necessidade do paciente e a prescrição médica;
Observar e orientar o paciente a respeito dos efeitos colaterais dos medicamentos de controle da dor, tais como, constipação, náuseas e tolerância aos remédios; a fim de preveni-los e minimizá-los;
Sugerir combinações de medicamentos narcóticos e não-narcóticos;
Entrar em contato com profissionais de saúde que fazem uso de métodos não farmacológicos no alívio da dor;
Qualquer alteração de resposta ao esquema de controle da dor - tal como nível de consciência, depressão respiratória (menor que oito inspirações/minuto), constipação, vômitos incontroláveis e retenção urinária - deve ser imediatamente comunicada ao médico assistente;
Medicações analgésicas devem ser administradas em horários padronizados e não apenas em momentos de crise;
Procurar proporcionar ao paciente uma melhor qualidade de vida, fornecendo condições de um sono tranqüilo, aliviando sua dor, controlando o emocional e o fluxo de visitas;
Manter o paciente em posição confortável, mudar decúbito sempre que necessário, dar banhos de aspersão ou leito, trocas diárias de curativo, cuidados com higiene oral e monitorização de sinais vitais;
Observar sentimentos de tristeza, irritabilidade, medo, ansiedade e solidão, buscando subsídios para compreender o estado emocional do paciente e possibilitar-lhe apoio;
O trabalho de assistência ao paciente com câncer envolve uma equipe multidisciplinar composta por assistente social, psicólogo, nutricionistas, médicos e enfermeiros empenhados em acompanhar, orientar, instruir, medicar e alimentar o paciente e oferecendo suporte para aumentar a sua sobrevida com qualidade.
MEDICAMENTOS
Uma terapêutica eficaz na dor do câncer é um tratamento bem sucedido da doença. Quando a cura não é possível, deve-se obter um eficiente alívio da dor. O conforto inicial obtido pelo paciente pode significar a diferença entre a adesão e o abandono da terapia.
Os medicamentos utilizados pelos pacientes devem ser adequados às suas necessidades individuais. O controle da dor pode envolver diversas terapêuticas: drogas analgésicas e adjuvantes (ansiolíticos, antidepressivos etc.), medidas de apoio, como psicoterapia, fisioterapia, cirurgias específicas para dor, radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia.
Existe um conjunto de regras, fruto de experiência pessoal, que foi desenvolvido por vários autores com o objetivo de otimizar o índice de aproveitamento do uso de analgésicos na dor de oncológica.
Regra nº 1 - Acreditar no paciente - Os pacientes com dor crônica relacionada ao câncer percebem que sua dor é intensificada quando há alguma sobrecarga social (dor da separação, dependência financeira, incerteza do futuro) e espiritual (falta de sentido da vida e da morte, religiosidade, sentimentos de culpa). A dor referida pelo paciente deve ser compreendida a partir do conceito de dor total, constituída pela dor somática, psicológica, psicossocial e espiritual.
Regra nº 2 - O Analgésico é apenas parte do tratamento - A administração do analgésico deve ser inserida no tratamento a fim de reduzir o sofrimento do paciente. Porém, deve-se lembrar que existem certos tipos de dor que não são tratáveis com analgésicos.
Regra nº 3 - A prescrição do analgésico deve ser contínua - A manutenção da prescrição do analgésico deve estar baseada na meia-vida da droga. Esquemas de prescrição de medicamentos "só quando necessário" devem ser abolidos.
Regra nº 4 - As doses devem ser individualizadas - Após a escolha da droga sua dosagem deve ser individualizada, com base na resposta do paciente à terapêutica e considerando-se a farmacodinâmica do produto. Essa regra permite o uso de escalas para avaliar a dor.
Regra nº 5 - Preferir a via oral para a administração de analgésicos - Segue-se uma regra de preferência: via oral, via sublingual, via retal, via transdérmica, via subcutânea, via intramuscular e via venosa.
Regra nº 6 - A escala analgésica da O.M.S. - A Organização Mundial da Saúde desenvolveu uma tática de administração de analgésicos baseada na intensidade da dor referida pelo paciente e na resposta ao medicamento. A intensidade da dor é classificada por uma escala não visual de 0 a 10. São analisados 3 patamares: 0 a 5, 5 a 7, mais de 7.
Dependendo do estágio de dor reportada, são inseridas associações de medicamentos, tais como analgésicos, opióides fracos e fortes.
Regra nº 7 - Combinar analgésicos racionalmente - Objetivando potencializar o efeito analgésico, associações de drogas podem ser adotadas, tomando-se a cautela de usar drogas com ações farmacológicas diferentes.
Regra nº 8 - Não permita que o seu paciente sofra dores - Não poupe drogas analgésicas, evitando assim o sofrimento desnecessário do paciente.
Regra nº 9 - Nem toda dor é responsiva a analgésicos.
Regra nº 10 - Não esquecer das medidas adjuvantes - Tais medidas baseiam-se no combate a possíveis efeitos adversos dos analgésicos.
Os medicamentos mais utilizados no tratamento da dor e seus efeitos colaterais:
Analgésicos não opiáceos: podem ser observados desconforto gastrointestinal, alteração da hemostasia e coagulação os quais podem ser minimizados, com a administração do medicamento com leite ou durante as refeições.
Analgésicos opiáceos: os efeitos colaterais mais comuns são náuseas, vômitos, constipação intestinal, sonolência, prurido, depressão respiratória e confusão mental. Diante desses sintomas o enfermeiro elabora o plano de cuidados relacionado a cada ocorrência.
Medicamentos adjuvantes: os antidepressivos podem causar sensação de boca seca, constipação intestinal, retenção urinária e confusão mental. Os neurolépticos podem levar à hipotensão, visão enevoada, taquicardia, retenção urinária e efeitos extrapiramidais.
CONCLUSÃO
Aumenta, a cada dia, o número de pessoas que sofrem de dor oncológica e muitas delas permanecem sem tratamento adequado. No entanto, existem métodos capazes de controlar este tipo de dor. Os cuidados atentos da enfermagem, associados à terapêutica medicamentosa, são as bases para manejar a dor do câncer, tornando-a suportável para o paciente.
Os enfermeiros devem ter em mente que os pacientes têm direito a ter sua dor aliviada; a persistência da dor ocasiona sofrimento inútil para o doente, familiares, amigos e equipe de saúde.
É importante que a enfermagem busque sempre a atualização do conhecimento e do preparo para lidar com os problemas do paciente com câncer, uma vez que ele é colocado frente a frente com frustrações de um trabalho com poucos retornos gratificantes. Por esta razão, faz-se necessário o real entendimento da sua função, de forma a ser impulsionado a continuar suas atividades.
Educar os profissionais que atuam na oncologia para o esclarecimento do público quanto ao medo exagerado da dor neoplásica é de extrema importância, para que os pacientes que necessitarem de terapias antiálgicas possam ser assistidos de maneira mais tranqüila, sem medos ou fantasmas que aumentam a ansiedade e induzem a sofrimentos psicológicos desnecessários que dificultando o seu tratamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ROSENTHAL, Susan.; CARIGNAN, Joanne R.; SMITH, Brian D. Oncologia prática: cuidados com o paciente. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter.
GULLER, Daniel H. A avaliação da dor no paciente oncológico. Atualidades em cancerologia. n. 6, p. 28-30, fev. 1995.
SILVA, Rosilda Veríssimo; FORKERT, Elsie C. O. ... et al. Grupo de assistência em dor aguda do Hospital Sírio Libanês. Nursing: Revista Técnica de Enfermagem. v. 2, n. 8, p. 20-24, jan. 1999.
Enfermeiras:Andreya C. P. Tulli, Cláudia S. C. Pinheiro, Sinara Z. Teixeira AFECC – Hospital Santa Rita de Cássia, Vitória - ES
INTRODUÇÃO
A dor é considerada um dos sintomas mais freqüentes nas neoplasias. É também o mais temido pelos pacientes oncológicos. Estima-se que 10% a 15% dos doentes de câncer apresentam dor de intensidade significativa nos casos de doença inicial. Com o aparecimento de metástases, a incidência da dor aumenta para 25% a 30% e nas fases muito avançadas da enfermidade, 60% a 90% dos pacientes referem dor de intensidade bastante expressiva. Aproximadamente nove milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de dor oncológica. Metade dos doentes sente dor em todos os estágios do câncer e 70% em doença avançada.
Nos próximos trinta anos, o aumento do número de casos de câncer será de 20% nos países desenvolvidos e de 100% nos países em desenvolvimento – o quetorna premente o desenvolvimento de novos tratamentos para controle da dor oncológica e o treinamento dos enfermeiros para o cuidado do paciente de câncer com dor. A dor oncológica pode ser devida ao tumor primário ou a suas metástases. O sofrimento dos doentes é o resultado da vivência da dor associado a incapacidade física, isolamento familiar e da sociedade, preocupações financeiras, o medo da mutilação e da morte.
O enfermeiro é o profissional da área da saúde que permanece mais tempo junto ao paciente com dor, portanto, tem a oportunidade de contribuir muito para aumentar o conforto do paciente e aliviar sua dor, através de cuidados especiais oferecidos para o conforto do paciente, de modo que ele possa desenvolver sua capacidade funcional e sobreviver sem dor.
As terapêuticas para tratamento do câncer quase sempre são agressivas, o que leva a uma ameaça séria à integridade do organismo e sua função. Um aspecto importante no cuidado do paciente com câncer é a necessidade de suporte psicológico para os profissionais que atuam diretamente em serviços de oncologia – principalmente para a equipe de enfermagem – pois ela passa, no dia a dia , por momentos de conflito interpessoal, por estar exposta a situações de gravidade, morte, expectativa de cura, tristeza de familiares e outros.
DEFINIÇÃO DE DOR
De acordo com a Associação Internacional para Estudo da Dor, dor pode ser definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano tecidual. Por ser subjetiva, não existe uma maneira precisa de mensurá-la. Deve-se efetuar a colheita da história da doença e do quadro álgico. A atenção deve estar voltada para fatores psicológicos e sociais que podem confundir a queixa.
O Enfermeiro deve saber reconhecer/identificar "indícios da dor". Esta é uma tarefa que pode gerar dificuldades, visto que pacientes e profissionais podem ter concepções diferentes da dor. Esta pode apresentar-se de diversas maneiras, tais como através do choro, gemido, alterações dos sinais vitais, agitação, tremor ou comportamento verbal. Entretanto, o não aparecimento dos sinais citados não significa ausência de dor. Alguns pacientes podem adaptar-se à dor, através do desenvolvimento de um elevado autocontrole, suprimindo os sinais de sofrimento, ou apenas permanecendo prostrados ou mais quietos que o habitual, devido ao esgotamento físico e mental causados pela doença.
A dor é classificada em aguda e crônica. A dor aguda é de curta duração, normalmente em um prazo inferior a seis meses. A intensidade da dor varia de fraca a severa, de causa pouco conhecida. O quadro de dor crônica é aquele de longa duração, de causa conhecida ou não, que não melhora após a terapêutica e com intensidade variada.
A dor ainda pode ser dividida em: somática, visceral e neurogênica. A dor visceral ocorre quando há comprometimento de órgãos internos. Não há localização precisa, é contínua e surda. A dor somática, originada de ossos e partes moles, é contínua, localizada na área acometida e que piora com pressão ou movimento. A dor neurogênica localiza-se na região inervada pelo nervo danificado e pode estar associada a um "déficit" motor ou sensitivo, alterações do sistema nervoso autônomo, parestesias e episódios paroxistícos de sensações de "choque" ou queimação.
Alguns fatores podem levar à dor, tais como:
- Infiltração do tumor em áreas inervadas, ossos, tecidos de parte moles ou retroperitôneo;- Compressão de tecidos e nervos, devido ao crescimento do tumor;- Necrose tecidual localizada como resultado da invasão tumoral;- Procedimentos invasivos de diagnóstico e tratamento;- Complicações ocasionadas do próprio tratamento como: infecções, estomatites, inflamação tecidual ocasionada pela radioterapia.- Incapacidade de movimento;- Alinhamento corporal inadequado.
A dor prolongada causa no paciente depressão, raiva, falha no desempenho de atividades rotineiras (ex.: atividade sexual, tomada de decisões). O profissional de enfermagem deve avaliar a dor através de levantamento de dados, para planejar a assistência de enfermagem, ajudar a selecionar as medidas de alívio mais adequadas e verificar a eficácia da terapêutica adotada.
É imperativo que o profissional da saúde não subestime as queixas do paciente e realize avaliação completa de todos os sintomas relatados, aprendendo a perceber quando a dor é elevada devido a distúrbios psicológicos, para providenciar o imediato tratamento.
Um roteiro a ser seguido baseia-se na intensidade, localização, tipo, início e duração, fatores que proporcionam alívio e piora, efeito ocasionado pelas terapias empregadas, anamnese exame físico.
Não há método totalmente adequado de avaliação da dor, visto que não sabemos como mensurar aspectos sensitivos e afetivos. Todavia, existem algumas escalas que são empregadas. Em uma delas, o indivíduo expressará a sua dor através de palavras ou símbolos. Exemplo: Sem dor, dor leve, dor moderada, dor intensa, dor excruciante. Um outro tipo de mensuração compreende uma escala numérica de 0 a 10, onde pede-se ao paciente que dê nota à sua dor. Em uma terceira escala, podemos levantar um questionário onde a dor é avaliada em: ausente, média, moderada, severa e intolerável.
CUIDADOS DE ENFERMAGEM
Ao cuidar de um paciente com dor é importante considerar dois tópicos que são relevantes para o exame, a intervenção e a avaliação. Primeiro: é o enfermeiro deve acreditar quando o paciente diz estar com dor. Não existem escalas exatas que mensure a dor, portanto, a avaliação é obtida através de dados sobre causas físicas, mentais ou emocionais da dor. Segundo: é a observação da variedade de comportamentos não verbais que indicam a presença da dor.Aspectos avaliados: a avaliação da enfermagem é feita através dos seguintes aspectos :a) Determinação da dor: Aguda ou Crônica;b) Atitudes do paciente;c) Identificação de fatores que influenciam a dor e a resposta do paciente a ela.
Esta avaliação proporciona ao enfermeiro a realização de um planejamento de enfermagem, voltado para a melhoria dos sintomas aqui estudado.
Avaliações e Intervenções de Enfermagem:
Avaliar o tipo de dor do paciente: localização, duração, qualidade e influência nas atividades do cotidiano;
Usar uma escala de intensidade da dor que vai de 0 (ausência de dor) a 10 (pior dor possível). Obter uma investigação cuidadosa dos medicamentos já utilizados e atuais, a resposta e os efeitos colaterais destes;
Explorar intervenções para a dor que tenham sido usadas e sua eficácia. Correlacionar a dor e sua intensidade ao analgésico prescrito;
Os analgésicos poderão ir diminuindo a partir do momento que se associa ao tratamento, a quimioterapia e radioterapia;
Intervir a fim de minimizar os riscos de ocorrência, gravidade e complicações da dor;
Usar medidas alternativas para alívio, como: construção de imagem, relaxamento e biofeedback;
Incentivar medidas que promovam o relaxamento: massagem superficial, compressiva ou vibratória;
Transmitir a sensação de que a dor do paciente é compreendida e que pode ser controlada;
Promover o conforto físico através de camas, protetores de colchões, aparelhos de apoio e demais equipamentos necessários;
Procurar ajudar paciente, familiares e equipe médica em relação à necessidade de apoio para controlar a doença;
Buscar ajuda de religiosos (quando o paciente professar uma determinada religião e for receptivo);
Controlar estímulos ambientais que possam prejudicar o paciente, tais como: barulho, calor, luz etc., evitando bater portas ao entrar ou sair do quarto ou enfermaria e controlando o volume da própria voz ao falar com o paciente;
Incentivar ajuda de um especialista, nos casos de dor intratável;
Ajudar o paciente a imaginar que está se livrando da dor, sempre que expira lentamente;
Esclarecer o paciente sobre as medidas tomadas a fim de reduzir e eliminar sua dor;
Estimular medidas relacionadas à terapia ocupacional, leituras, televisão, música e, se possível, trabalho com argila, aquarela, crochê, tricô;
Comprometer-se com o paciente a não abandoná-lo, caso a dor persista, continuando a buscar alternativas para controlá-la;
Usar técnicas que ajudem no relaxamento, evitando fadiga, promovendo a descontração do músculo esquelético, que reduz a intensidade da dor ou aumenta a tolerância à ela;
Sempre que possível, usar a via oral para administração dos medicamentos, evitando a via IM;
Administrar analgésicos previamente, antes do ressurgimento dos sintomas da dor, a fim de evitar dor severa;
Solicitar ajuda de outros profissionais da saúde, caso apareça dor em outras regiões do corpo, ou mesmo o aumento desta;
Orientar quanto aos métodos de administração dos medicamentos, determinados pelo pico de ação e duração do medicamento no organismo, conforme necessidade do paciente e a prescrição médica;
Observar e orientar o paciente a respeito dos efeitos colaterais dos medicamentos de controle da dor, tais como, constipação, náuseas e tolerância aos remédios; a fim de preveni-los e minimizá-los;
Sugerir combinações de medicamentos narcóticos e não-narcóticos;
Entrar em contato com profissionais de saúde que fazem uso de métodos não farmacológicos no alívio da dor;
Qualquer alteração de resposta ao esquema de controle da dor - tal como nível de consciência, depressão respiratória (menor que oito inspirações/minuto), constipação, vômitos incontroláveis e retenção urinária - deve ser imediatamente comunicada ao médico assistente;
Medicações analgésicas devem ser administradas em horários padronizados e não apenas em momentos de crise;
Procurar proporcionar ao paciente uma melhor qualidade de vida, fornecendo condições de um sono tranqüilo, aliviando sua dor, controlando o emocional e o fluxo de visitas;
Manter o paciente em posição confortável, mudar decúbito sempre que necessário, dar banhos de aspersão ou leito, trocas diárias de curativo, cuidados com higiene oral e monitorização de sinais vitais;
Observar sentimentos de tristeza, irritabilidade, medo, ansiedade e solidão, buscando subsídios para compreender o estado emocional do paciente e possibilitar-lhe apoio;
O trabalho de assistência ao paciente com câncer envolve uma equipe multidisciplinar composta por assistente social, psicólogo, nutricionistas, médicos e enfermeiros empenhados em acompanhar, orientar, instruir, medicar e alimentar o paciente e oferecendo suporte para aumentar a sua sobrevida com qualidade.
MEDICAMENTOS
Uma terapêutica eficaz na dor do câncer é um tratamento bem sucedido da doença. Quando a cura não é possível, deve-se obter um eficiente alívio da dor. O conforto inicial obtido pelo paciente pode significar a diferença entre a adesão e o abandono da terapia.
Os medicamentos utilizados pelos pacientes devem ser adequados às suas necessidades individuais. O controle da dor pode envolver diversas terapêuticas: drogas analgésicas e adjuvantes (ansiolíticos, antidepressivos etc.), medidas de apoio, como psicoterapia, fisioterapia, cirurgias específicas para dor, radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia.
Existe um conjunto de regras, fruto de experiência pessoal, que foi desenvolvido por vários autores com o objetivo de otimizar o índice de aproveitamento do uso de analgésicos na dor de oncológica.
Regra nº 1 - Acreditar no paciente - Os pacientes com dor crônica relacionada ao câncer percebem que sua dor é intensificada quando há alguma sobrecarga social (dor da separação, dependência financeira, incerteza do futuro) e espiritual (falta de sentido da vida e da morte, religiosidade, sentimentos de culpa). A dor referida pelo paciente deve ser compreendida a partir do conceito de dor total, constituída pela dor somática, psicológica, psicossocial e espiritual.
Regra nº 2 - O Analgésico é apenas parte do tratamento - A administração do analgésico deve ser inserida no tratamento a fim de reduzir o sofrimento do paciente. Porém, deve-se lembrar que existem certos tipos de dor que não são tratáveis com analgésicos.
Regra nº 3 - A prescrição do analgésico deve ser contínua - A manutenção da prescrição do analgésico deve estar baseada na meia-vida da droga. Esquemas de prescrição de medicamentos "só quando necessário" devem ser abolidos.
Regra nº 4 - As doses devem ser individualizadas - Após a escolha da droga sua dosagem deve ser individualizada, com base na resposta do paciente à terapêutica e considerando-se a farmacodinâmica do produto. Essa regra permite o uso de escalas para avaliar a dor.
Regra nº 5 - Preferir a via oral para a administração de analgésicos - Segue-se uma regra de preferência: via oral, via sublingual, via retal, via transdérmica, via subcutânea, via intramuscular e via venosa.
Regra nº 6 - A escala analgésica da O.M.S. - A Organização Mundial da Saúde desenvolveu uma tática de administração de analgésicos baseada na intensidade da dor referida pelo paciente e na resposta ao medicamento. A intensidade da dor é classificada por uma escala não visual de 0 a 10. São analisados 3 patamares: 0 a 5, 5 a 7, mais de 7.
Dependendo do estágio de dor reportada, são inseridas associações de medicamentos, tais como analgésicos, opióides fracos e fortes.
Regra nº 7 - Combinar analgésicos racionalmente - Objetivando potencializar o efeito analgésico, associações de drogas podem ser adotadas, tomando-se a cautela de usar drogas com ações farmacológicas diferentes.
Regra nº 8 - Não permita que o seu paciente sofra dores - Não poupe drogas analgésicas, evitando assim o sofrimento desnecessário do paciente.
Regra nº 9 - Nem toda dor é responsiva a analgésicos.
Regra nº 10 - Não esquecer das medidas adjuvantes - Tais medidas baseiam-se no combate a possíveis efeitos adversos dos analgésicos.
Os medicamentos mais utilizados no tratamento da dor e seus efeitos colaterais:
Analgésicos não opiáceos: podem ser observados desconforto gastrointestinal, alteração da hemostasia e coagulação os quais podem ser minimizados, com a administração do medicamento com leite ou durante as refeições.
Analgésicos opiáceos: os efeitos colaterais mais comuns são náuseas, vômitos, constipação intestinal, sonolência, prurido, depressão respiratória e confusão mental. Diante desses sintomas o enfermeiro elabora o plano de cuidados relacionado a cada ocorrência.
Medicamentos adjuvantes: os antidepressivos podem causar sensação de boca seca, constipação intestinal, retenção urinária e confusão mental. Os neurolépticos podem levar à hipotensão, visão enevoada, taquicardia, retenção urinária e efeitos extrapiramidais.
CONCLUSÃO
Aumenta, a cada dia, o número de pessoas que sofrem de dor oncológica e muitas delas permanecem sem tratamento adequado. No entanto, existem métodos capazes de controlar este tipo de dor. Os cuidados atentos da enfermagem, associados à terapêutica medicamentosa, são as bases para manejar a dor do câncer, tornando-a suportável para o paciente.
Os enfermeiros devem ter em mente que os pacientes têm direito a ter sua dor aliviada; a persistência da dor ocasiona sofrimento inútil para o doente, familiares, amigos e equipe de saúde.
É importante que a enfermagem busque sempre a atualização do conhecimento e do preparo para lidar com os problemas do paciente com câncer, uma vez que ele é colocado frente a frente com frustrações de um trabalho com poucos retornos gratificantes. Por esta razão, faz-se necessário o real entendimento da sua função, de forma a ser impulsionado a continuar suas atividades.
Educar os profissionais que atuam na oncologia para o esclarecimento do público quanto ao medo exagerado da dor neoplásica é de extrema importância, para que os pacientes que necessitarem de terapias antiálgicas possam ser assistidos de maneira mais tranqüila, sem medos ou fantasmas que aumentam a ansiedade e induzem a sofrimentos psicológicos desnecessários que dificultando o seu tratamento.
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